Carta para o meu Avô
Querido Avô,
Não chorei. Não me permiti chorar, porque disseste-me que estava tudo bem. Mostraste-me, da forma possivel, e eu senti-o. Estavas, finalmente em paz. Acabara o sofrimento, a angústia, a espera.
Mesmo com todos os erros, sempre gostei de ti, acho que o sabes. Mesmo quando dizia ou pensava algo errado. De certa forma eras uma inspiração, por todos os horrores passados, por aquela força no último desafio.
Não foi justo, mas no fundo era o que preferias, via-o nos teus olhos e ninguém o pode desmentir.
Sinto-te em cada canto, e ainda espero ver-te sentado no teu sofá (que durante algum tempo foi o meu), mas sei que não voltarei a ver-te. Talvez um dia quando nos encontrarmos novamente.
Não chorei. Até posso ter chorado em silêncio, nos espaços remotos da minha mente, mas por ti, mantive-me calma. Claro que as lágrimas aparecem quando penso, quando me apercebo, novamente, da realidade. Mas são substituidas pelos momentos divertidos, como aqueles que surgiam durante um jantar, ou um almoço.
Tenho saudades, claro que tenho saudades e ainda não tive a oportunidade de te entregar nada que mostrasse isso, mas sei que sabes de tudo, e percebes porque ainda não o fiz.
Espero ver-te novamente (hoje ouvi-te, sabias? aquele som caracteristico da boa disposição chegou-me aos ouvidos), mas enquanto isso não me é possivel, espero que estejas em paz, junto dos que já partiram e deixaram a nossa familia mais reduzida. E espero que estejas junto do anjo que mais adoro, sim, porque ela só se pode ter tornado um anjinho, a olhar por nós.
Cuida dela. Cuida de ti.