A Descendente - Capitulo Um
Respirei fundo, tentando não fazer um único som. Estava escondida atrás de um pilar enorme, escutando os passos dele, quase silênciosos. Conseguia ver o seu reflexo no vidro á minha frente. Movia-se cautelosamente e de forma quase felina, como um leopardo quando caça.
Ele estava armado, trazia uma Glock na mão, que apontava para a frente com mestria, enquanto varria o espaço. Ele ouvira-me, ele ouvira-me e agora vinha matar-me. E eu fora tão estúpida! Sentira a presença dele, mas então, porque não fugira? Porque continuei a invocação? Ás vezes, eu odiava-me. Mas algo me dissera para ficar.
Consegui perceber o que ele era. Um caçador. Fechei os olhos por dois minutos. Eu não queria matá-lo, a anergia que emanava dele não era negativa. Ele não merecia morrer.
- Eu sei que estás aí. - Disse ele, com voz grave.
Abri os olhos e vi-o parado, do outro lado do pilar, observando o vidro onde eu o conseguia ver. Suspirei, escondi a arma nas calças e saí, colocando-me á sua frente.
Vi o choque no seu olhar, mas ele nunca vacilou. Depois, devagar, o seu semblante foi mudando e um sorriso trocista apareceu-lhe no rosto.
Ele era lindo. Com olhos azuis, pele morena e cabelo cor de chocolate negro. Vestia uma t-shirt preta, calças de ganga rasgadas e botas de motoqueiro.
- Vocês estão a ficar cada vez mais bonitos. - Disse ele, olhando-me.
Se o achava interessante, de repente, perdi toda a vontade de o deixar viver. Ele, tal como o anjo, achava-me um demónio. Senti algo dentro de mim, acordando, mas ignorei, mantendo-o dominado.
Fiquei a olhá-lo sem dizer nada, esperando que ele acabasse de tirar as suas próprias conclusões. Ele resfolegou, sem nunca baixar a arma.
- Estás sozinha? Ou trouxeste amigos contigo? - Ele olhou para o lado e depois novamente para mim. - O que estão a fazer aqui, afinal? Neste local decrépito? Espera... - Ele sorriu. - Uma...?
Semicerrei os olhos.
- Estou sozinha. - Respondi. - Vais matar-me?
- Estou a pensar nisso. - Ele olhou a taça que eu deixara no chão.
- Estavas a fazer um telefonema? - Perguntou, fazendo um movimento com a cabeça. - A falar com o "papá"?
Cerrei os punhos.
- O meu pai desapareceu á uns tempos. - Encarei-o. - Não sou o que tu pensas.
- Pois... E a taça é uma ilusão de ótica. - Ele encolheu os ombros. - Nunca são. Até ao dia em que aparecem e matam toda a tua familia, ou quase toda. E depois, quando pensas que nunca mais voltará a acontecer-te algo tão terrivel, aparecem novamente e levam-te a última pessoa que te restava.
Fiquei calada por dois minutos, olhando-o. Sentia raiva a crescer dentro dele. Mas, subitamente, fiquei mais calma.
- Foi o que te aconteceu? - Perguntei.
Ele pareceu sair de uma espécie de transe e olhou-me.
- Não interessa! Vocês são todos iguais!
Farta daquela conversa, avancei sobre ele, mais rápida do que os seus movimentos, e retirei-lhe a adaga que vira na sua cintura. Ele apontou a arma á minha cabeça.
- Devolve-me isso! - Rosnou.
- Isto é especial, não é? - Disse eu. - Um corte e mata o que tu pensas que eu sou. - Estiquei o braço e coloquei a lâmina sobre a pele. - Eu não sou um demónio.
Ele ficou paralisado, a ver-me enterrar a ponta da faca no braço. Um fio de sangue escorreu, pingando para o chão, e ele olhou-me nos olhos, confuso.
- És humana? - Perguntou.
Sorri. Acabara de ter uma ideia.
- O que andas a caçar? - Perguntei.
Ele ficou surpreso com a pergunta, mas baixou a arma.
- Um Wendigo, na floresta em redor da cidade. Mas é só uma paragem, procuro algo maior.
- Maior?
Ele acenou com a cabeça.
- Lilith. - Disse ele.
Tal como eu pensara. Segurei a adaga pela lâmina e estendi-lha.
Eu precisava de achar Lilith para achar o meu pai...
- Sou a Lauren. - Disse eu. - Procuro a Lilith. - Encolhi os ombros. - Queres ajuda?
P.S: esta história foi inspirada na série "sobrenatural", mas não é uma cópia!