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A Descendente - Capitulo Dois

Duas semanas depois...

Eu estava deitada no sofá, com as pernas por cima deste, a ler um livro, quando Daryl entrou, segurando dois copos de café e um saco de papel. Ele não falou, limitou-se a deixar tudo em cima da pequena mesa e a dirigir-se ao quarto.
Tinhamos alugado uma pequena casa, na cidade de Buffalo, no estado de Nova Iorque, depois de termos apanhado o Wendigo em Milford, Connecticut. Está bem, aquilo não poderia ser chamado de casa. Tinha um quarto, uma cozinha e uma casa de banho e ficava num desses moteis baratos em que o homem da receção mais parece um bandido.
Claro que, para Daryl, era quase impossivel ficar quieto ou calado, por isso quando o primeiro grito soou vindo do quarto, limitei-me a erguer o olhar. Ele estava de pé, falando alto sobre algo que eu ainda não percebera. Fiquei ali, a olhá-lo, em cima do sofá, de livro nas mãos, aberto. Ele parou, parecendo irritado.
- O quê? - Perguntei, muito calmamente.
- A minha mala, com as armas, desapareceu! - Gritou ele.
Suspirei.
- Primeiro, nem sei do que estás a falar. Não lhe toquei. Segundo, estás aos gritos, a falar sobre armas. Não tarda tens a policia á porta. - Disse eu.
Ele continuou, ignorando o meu aviso e, tal como previra, minutos depois bateram á porta. Suspirei, fechei o livro e levantei-me, com Daryl atrás de mim. Abri e lá estavam eles. Dois policiais, que nos olhavam de forma avaliadora.
Reparei que um deles me observava com especial atenção e cocnentrei-me nele. Procurava sinais de choro, alguma marca que sugerisse que eu fora agredida. Uau, eles pensavam que era um caso de violência doméstica.
- Sr. e Sr.ª O'Conner? - Disse um deles.
Assenti e Daryl permaneceu calado, ao meu lado.
- Chamaram-nos por causa do barulho que os senhores estavam a fazer. - Ele olhou para Daryl. - O senhor, aliás. Informaram-nos de que parecia que estavam a discutir.
Sorri, a imagem da inocência e vi os dois policiais a observarem-me, com algo a mudar nos seus olhares.
- Oh, peço imensa desculpa. O meu marido ás vezes não controla o tom de voz. - Toquei no peito de Daryl. - É o que acontece quando se tem empregados que não fazem o que lhes é pedido. Nada de mais.
Tinhamos dado nomes falsos na receção, fazendo-nos passar por um casal.
- A senhora não é demasiado nova para estar casada? - Perguntou um deles.
- Vinte e seis anos é ser-se demasiado nova? - Perguntei, com uma expressão cautelosa.
Eles trocaram um olhar, e depois o mais alto encarou Daryl.
- Que idade tem?
- Vinte e oito. - Respondeu ele.
- Tudo bem. Desta vez passa, não faremos nada. - Disse o policia, mas eu sabia que ele estava desconfiado. - Os senhores vão ficar muito tempo?
Olhei Daryl, fazendo o papel de mulher adorável e que não se intromete demasiado nos negócios do marido.
- Não. Depende da demora do contrato. - Disse ele.
- Contrato?
- Sim. Viajamos muito, em trabalho. - Disse Daryl. - Estamos prestes a fazer negócio com uma empresa.
O policia mais baixo olhou-me e depois encarou Daryl.
- E traz sempre a sua mulher consigo?
Percebi que ele era, ligeiramente, machista e isso irritou-me.
Coloquei a mão na barriga e os policias pareceram chocados.
- Não se pode deixar uma mulher grávida sozinha, não é? - Sorri.
Senti Daryl ficar tenso nos meus braços, mas manteve o braço em volta da minha cintura. Reparei que Daryl deveria ter um aspeto suspeito para a policia. Apesar do bom ar, e fisico, já agora, Daryl parecia o tipo de rapaz que lança fogo a casas só por divertimento.
- Lá isso é verdade. - Disse o policia mais alto. - Ficam terriveis.
Daryl soltou uma gargalhada que, aos meus ouvidos, me pareceu genuína.
Quando ele fechou a porta, depois de os policias saírem, olhou-me, como se não acreditasse no que acabara de acontecer.
- O que é que foi aquilo? - Perguntou.
Revirei os olhos.
- Querias que se fossem embora, ou não?
- Sim, mas...
- Então pronto. - Saltei por cima das costas do sofá e voltei á minha posição inicial.
Ele rodeou o sofá e olhou-me.
- Tu tens muita facilidade em mentir. - Disse ele.
Inclinei-me na sua direção, olhando-o nos olhos.
- Fala o homem que entregou um cartão falso na receção. Não é, Sr. O'Conner?
Ele susteve o meu olhar.
- Tu és terrivelmente irritante! - Disse ele, mas depois sorriu. - Sr.ª O'Conner.
Depois aproximou-se da janela, olhando o exterior.
- Enquanto saí, descobriste alguma coisa? - Perguntou.
- Sim. - Voltei ao meu livro, mas senti-o olhar-me.
- Vais contar-me? Ou terei de pedir um requerimento?
Sorri.
- Já ouviste falar num tal de Jacob Black?
- Quê? - Daryl ficou confuso.
Suspirei e fechei o livro novamente. Depois virei-o e mostrei-lhe a capa. Lua Nova, de Stephenie Meyer.
- Deveria saber quem é? - Perguntou.
- Jacob Black é um jovem lobisomem, na famosa saga Twilight. - Olhei-o. - É a senha do computador da nossa miúda.
- Entraste no computador dela? - Daryl parecia chocado.
Revirei os olhos.
- Daryl, posso estar enganada, mas ela anda a sair com um lobisomem, tudo indica para tal. E aposto contigo em como é ele que anda a matar as pessoas. E... Há mais.
Daryl esperou que eu continuasse.
- Amanhã é lua cheia. - Disse-lhe.

 

A Descendente - Capitulo Um