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Rasto de Sangue #5

Já percorrera a casa toda, dera voltas e mais voltas mas não conseguia encontrar a maldita caixa. Vasculhara todos os cantos e recantos, todos os esconderijos que poderiam ter passado pela cabeça do meu irmão e nada.
Sentei-me, exausta no sofá. Entrar ali, no quarto dele outra vez, fora terrivel. Ainda estava tudo como ele havia deixado, pois não me sentia capaz de enfrentar a verdade. Cheguei mesmo a chorar, soltando gritos abafados, quando me apercebi do desaparecimento da malfadada caixa. Tudo me passou pela cabeça, desde a morte do meu irmão, que o impedia de a entregar pessoalmente, ao facto da ameaça patente nas palavras de Eric.
Se eu não encontrasse o que ele queria, iria tornar-me num objeto que ele conseguiria controlar, mas isso eu não podia permitir. Não podia pensar no que ele iria fazer comigo, ou no que ele me iria obrigar a fazer...
O telemóvel tocou, assustando-me e devolvendo-me á realidade. Segurei-o ainda com mãos trémulas e atendi a chamada.
- Estou bem. - Respondi, depois de ver quem era.
- Abre a porta.
Olhei pelo vidro e vi John de pé, no pequeno alpendre. Desliguei, enfiei o telemóvel no bolso das calças e levantei-me, derrotada, para abrir a porta.
John olhou-me de alto a baixo e percebi que ele detectara algo. Eu contara-lhe a verdade, na noite anterior, depois de Eric ter deixado o bar. John queria persegui-lo, ameaçá-lo, mas algo me dizia que isso não era a coisa mais sensata a fazer. Eric emanava poder e perigo, e eu não podia perder a única pessoa que me conseguia manter de pé. Custava admitir, mas era a verdade. John era o meu porto seguro.
- Não encontraste nada. - Disse ele.
Deixei-o junto da porta e sentei-me novamente.
- Não. - Gemi, fechando os olhos.
Senti John sentar-se do meu lado e olhei-o.
- O Ryan não tinha outro lugar onde pudesse esconder a caixa? - Perguntou John.
- Não. Ele não tinha nada, só a mim e ao meu pai.
John ficou em silêncio e eu fechei os olhos, concentrando-me na minha respiração e impedindo-me de gritar ou chorar.
De repente, o meu telemóvel começou a tocar. Peguei-lhe mas não reconheci o número e, a medo, lá atendi.
- Beth Miller? - Perguntou uma voz do outro lado.
- Sim?
- Fala o Eric. Por acaso já encontrou a minha caixa?
Gelei. Como é que ele sabia o meu número de telemóvel? Perguntei-lhe isso mesmo, e a resposta dada fez-me estremecer.
- Minha queria, eu tenho sempre tudo o que quero. Nem que seja um simples número de telemóvel.
Fiquei tonta e senti a mão de John no meu braço. Fechei os olhos.
- Ainda não a encontrei. - Respondi. - Procurei por todo o lado, mas o Ryan deve tê-la...
- Penso que ficou bastante claro o que lhe disse antes. - Disse Eric. - Tem três dias para encontrar essa caixa, a contar com o de hoje. Três dias. Nada mais. Se não a encontrar... Vai trabalhar para mim. - E desligou.
Fiquei ali, com o telemóvel no ouvido, percebendo que John tentava chamar a minha atenção, mas sem conseguir retribuir. Eu estava condenada, porque era óbvio que a caixa nunca iria aparecer. Pensei na mulher sentada á mesa de Eric. Eu não iria tornar-me numa delas, nem em outra coisa qualquer. Eu, simplesmente, preferia morrer a trabalhar para Eric.
Além disso, suspeitava que não iria só trabalhar para ele. Algo me dizia que passaria a pertencer-lhe.

Coisas de Infância #1

Como recordar é viver, decidi recordar coisas de infância, boas e menos boas. Hoje começo com uma coisa da qual não me lembro, mas que me é contada muitas vezes.

Em bebé, estávamos (eu e os meus pais) em casa de uma tia minha, em Mirandela. Para o jantar resolveram fazer Fondue. Até aí, tudo muito bem.

Ás tantas, a minha tia repara que aquilo está a apagar-se e resolve deitar mais liquido, mas como é toda despachada, não o retira do seu lugar, despejando diretamente no recipiente em cima do gás quente (sim, já foi á bastante tempo). Resultado? Aquilo provoca uma chama que sai por baixo, dirigindo-se a um dos lados da mesa. Todos se desviam, mas eu, como estava no colo da minha mãe e não percebia nada de nada, não me podia desviar. A minha tia diz que, quando olha para mim, vê chamas no meu cabelo e os meus olhos muito abertos.

Fui levada para o hospital, sem nunca chorar, e tratada por uma médica que hoje apelido de "cabra", porque o foi. Ela faz-me o penso na orelha esquerda e passa uma receita de um medicamento.

A minha tia e a minha mãe, dirigem-se á farmácia e, por sorte ou porque o meu anjinho estava comigo nesse dia, estava um senhor bastante idoso a ser atendido. Quando ele sai, a minha tia aproxima-se e entrega o papel. Ela diz que a farmacêutica sorri e diz: "Curioso, duas receitas iguais uma a seguir á outra." A minha tia diz que deve haver engano, porque aquele medicamento é para mim, uma menina de um ano.

A farmacêutica ficou branca como a cal, dizendo que iria trocar o medicamento porque, ao darem-me aquele remédio para as dores (e iam dar assim que chegassemos a casa), eu iria adormecer... Mas não iria acordar. Era o equivalente a dar a um adulto uma dose de cavalo.

Hoje não tenho cicatriz alguma, apenas a pele da minha orelha (quando vista com atenção) parece "mais velha" do que a outra, mas nada que se repare á primeira, nem á segunda. Mas agradeço a essa farmacêutica, a qual não sei quem seja, pela atitude que teve e pelo comentário certeiro que fez. Se ela tivesse ficado calada, hoje a Lêh não estaria aqui.

Ir ou não ir, eis a questão.

Bom dia!

Aqui esta vossa amiga está a planear algo para o fim-de-semana, mas agora instalou-se uma questão: Vamos ou não? Levamos o miúdo ou não?

A ideia era rumarmos á praia, mas eu conheço o meu filho, e sei que ele não é grande fã de praia. Mas por outro lado, algo me diz que ele iria gostar, ao contrário do ano passado, de brincar na areia, do mar...

E depois existe o outro lado da moeda... Este fim-de-semana era para ser algo especial, um tempinho só para mim e a minha metade, sem telemóveis a incomodar, sem pessos conhecidas a cuscar para onde vamos ou deixamos de ir... Uma escapadela só nossa... Mas isso implicaria não levar o míudo...

Estou tão indecisa que não sei o que faça... Acho que vou ali bater com a cabeça nas paredes, só para ver se tenho alguma ideia brilhante.