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Rasto de Sangue #3

Uma Semana Depois...

 

- Anda, levanta-te! - Gritou John.
Beth, sentada na cama, olhou-o.
- Porque estás aos gritos comigo? - Perguntou, a sua voz um sopro, em nada semelhante com a sua voz normal.
John sentiu um aperto no estômago e sentou-se junto das pernas dela, estiradas sobre a cama.
- É a única forma de reagires. - Explicou. - Se falar contigo normalmente, tu não me ouves.
Ela assentiu. Estava na hora de voltar á normalidade, John tinha razão. O pai, o Sr. Miller, caíra numa apatia medonha após o funeral do filho, mas Beth não queria isso para si. Prometera continuar a sua vida, claro que sem nunca esquecer o irmão, mas não se permitiria cair numa depressão, que a envolvesse com os seus tentáculos pegajosos. No entanto, a imagem de Ryan, deitado no chão, desfigurado e irreconhecivel, e com a garganta aberta, manchando o tapete de sangue quente, ainda estava bastante viva na sua mente.
Suspirou e olhou para John.
- Está bem. - Disse ela. - Dás-me dois minutos? Preciso de um banho.
- Fico aqui, não quero correr o risco de te armares em engraçadinha lá dentro. - Indicou a porta da casa-de-banho privativa com o queixo.
Beth observou-o, calada, mas por momentos a sua mente esqueceu tudo. Tudo menos esbofetear John.
- Não me vais ver nua. - Rosnou ela.
- Prometo fechar os olhos. - Disse ele.
Sentindo que não era capaz de demover John das suas decisões, Beth levantou-se e dirigiu-se á casa de banho.
John fechou os olhos por dois segundos e respirou fundo. A morte de Ryan abalara-o, mas ele não se podia dar ao luxo de ir abaixo. Ele tinha de ser o pilar de Beth, caso contrário ela acabaria como o pai.
Abriu os olhos, passara mais tempo naquela casa em uma semana, do que imaginava ser possivel, devido ao feitio de Beth. Mas esta pedira-lhe para pasar ali algumas noites, e ele percebera o pedido. De repente, John ficou estático, aprecebendo-se de que Beth não fechara totalmente a porta. O momento não era adequado a ideias sedutoras, mas John não conseguiu impedir os seus olhos de procurarem ávidamente por um vislumbre da rapariga, mesmo naquele espaço limitado. O seu coração batia rapidamente, e um calor apoderava-se do seu corpo, algo que ele já sentira e sabia identificar.
Sem aviso prévio, John viu Beth embrulhada da toalha, dentro da divisão. Conseguia ver metade do seu corpo. Estava bronzeado e, quando ela retirou a toalha, as suas curvas bem delineadas saltaram á vista. John permitiu-se aproveitar da distração de Beth e observou-a. Observou as suas pernas tonificadas e fortes, o seu rabo com a marca do biquini... As suas costas...
Algo se mexeu contra a sua vontade, e ele levou a mão ás calças, onde uma parte do seu corpo lutava contra o espaço apertado.
- Para com isso! - Murmurou para si, mas incapaz de desviar o olhar.
Foi quando Beth se voltou, permitindo-lhe ver os seios nus, generosos e convidativos, e a zona abaixo do umbigo que parecia gritar-lhe aos ouvidos, que John se levantou e saiu do quarto o mais rápido que conseguiu, refugiando-se dentro da casa-de-banho dos hóspedes, num dos quartos, e trancando a porta. Tentou desviar os seus pensamentos para outra direção, mas estes eram arrastados de volta á imagem nua de Beth.
Com um som abafado, John tirou o cinto e abriu o fecho das calças, tocando no seu corpo incandescente com um gemido. Estava tão excitado que não demorou muito tempo a atingir o ponto fulcral, enquanto o nome de Beth saía por entre os seus lábios, sussurrado tal qual um segredo.
Ainda com a mão suja do seu próprio fluído, John encostou o outro braço á parede, e poisou a cabeça sobre este, fechando os olhos e respirando ofegantemente.
- John!
Ele saltou de susto ao ouvir Beth chamar por si.
- Vou já! - Respondeu, puxando o autocolismo e lavando as mãos rapidamente.
Olhou-se ao espelho, apertou o cinto e tentou fazer um ar o mais normal possivel. Mas, mesmo sendo homen, apostava que iria corar um pouco assim que visse Beth.
Beth esperava na sala, sentada no sofá, mas levantou-se assim que John desceu o último degrau.
- Estou pronta. - Disse ela.
John olhou-a. A indumentária era algo que usava várias vezes: calças de ganga, uma blusa sem mangas e com um decote generoso e, nos pés, uns ténis. O cabelo estava solto e a maquilhagem perfeita. Beth parecia normal, tendo em conta as circunstâncias.
- Eu sei que... - Disse ele, mas ela silênciou-o com um gesto da mão.
- Não. - Disse. - Agora que me fizeste levantar, não vou voltar atrás. Vai ser um dia de trabalho como tantos outros.
John sorriu-lhe.
- Esta é a minha miúda. - Disse, só percebendo o que tinha dito quando sentiu calor no rosto.
Beth olhou-o.
- A tua miúda que, por acaso, manda em ti. Ou pelo menos tanto como tu. - Disse, relembrando-lhe que, oficialmente, John já era patrão no "Maltese". - Mas calma, não sou a TUA miúda. - Sorriu.
John ficou feliz com aquele sorrisinho lançado ao acaso. Beth não sorria á dias.

 

Beth trabalhara com afinco durante todo o dia. Recolhendo pedidos, entregando as coisas nas mesas certas, limpando mesas e ajudando no balcão. Tudo isto sobre o olhar atento de John, que esperava um colapso a qualquer momento. Mas ela não o desiludira.
Depois de escurecer, Beth permitiu-se encostar a anca ao balcão, do lado de dentro, olhando a clientela.
- O Claude está no céu. - Disse John, sorrindo.
Beth riu. Claude estava junto de uma mesa, ocupada por um rapaz bastante atraente, que sorria bastante para o empregado. Os dois conversavam animadamente, ainda que Claude se mantesse de pé por ser o seu local de trabalho.
- Pode ser desta. - Disse Beth.
- Não sei... - Disse John.
Beth contornou o balcão e dirigiu-se ao amigo, poisando-lhe a mão no ombro e, em seguida, retirando-lhe o tabuleiro das mãos.
- Senta-te, aproveita. - Disse ela ao ouvido de Claude.
Este fez-lhe o seu melhor sorriso e sentou-se á mesa, enquanto Beth voltava ao seu lugar.
John sorriu-lhe.
Subitamente, a porta abriu e um homem entrou. Não entrou sozinho, ao seu lado uma mulher deslumbrante olhava o espaço com curiosidade e, atrás de si, dois homens enormes, vestidos de negro e com auriculares nos ouvidos, pareciam atentos a tudo e todos. O homem era alto, magro, de pele pálida e cabelo negro como ébano. Vestia um fato, todo ele preto, e uma camisa branca.
Ele e a mulher, sentaram-se a uma mesa, enquanto os outros dois ficavam de pé, um de cada lado, protegendo os seus ocupantes.
Beth deu um passo em frente, pronta a dirigir-se á mesa, mas sentiu a mão de John no seu braço. Olhou-o.
- Eu vou. - Disse ele.
- Não. - Beth sacudiu a mão do homem com gentileza. - Não tenho medo.
Endireitando os ombros e sacudindo o cabelo, Beth dirigiu-se á mesa, sem saber o que esperar de tal peculiar grupo. Talvez peculiar não fosse a palavra adequada para descrever o homem de negro, que parecia liderar todos os outros. Beth pensou numa palavra que o descrevesse e, de repente, surgindo qual flash luminoso, ela surgiu. A palavra certa era assustador. E Beth percebeu porquê. As vestes negras, o fato cuidado e caro... Por algum motivo, aquele homem lembrava-lhe a morte.

 

Rasto de Sangue #1

Rasto de Sangue #2

Titanic na memória

Hoje lembrei-me de algo. Lembrar não é bem o termo, porque nunca foi esquecido, mas foi qualquer coisa do género.

Uns miúdos decidiram ver, hoje, o filme "Titanic", aqui nos estaminé, e isso lembrou-me de quando eu tinha a idade deles. Foi o primeiro filme que vi com olhos de ver, porque quando saiu, a minha mãe disse-me que era muito pesado para mim. Mas assim que tive a oportunidade, agarrei nele e vi-o sozinha.

Fiquei rendida ao ecrã, completamente apaixonada pelo filme. Não pela história de amor entre Rose e Jack, que isso na altura não me interessava para nada, mas mais pelo mistério que o desastre evocou em mim. Toda aquela histeria á volta da viagem, da chegada a Nova Iorque, o facto de ninguém se ter apercebido do iceberg até ser tarde demais... Eu era uma criança, sim, mas compreendia tudo isto. Eu era um pouco avançada em relação aos outros miúdos, talvez devido á educação que recebi, logo o filme não me pareceu pesado.

Mas desde aí que o navio me fascina e, ainda hoje, leio e vejo tudo o que há sobre o mesmo. Claro que, hoje em dia, se rever o filme, as lágrimas vêm-me aos olhos ao ver todas aquelas vidas perdidas, porque compreendo melhor a morte e a tragédia, mas mesmo assim, continua a exercer em mim a mesma magia que exercia á anos atrás.

Da minha mesa, consigo ver a televisão da sala onde os miúdos estão. Acho que vou dando umas espreitadelas hehehehe