Se eu pudesse voar? Ah se eu pudesse voar... Abria as asas, bem cedinho, com a brisa fresquinha a inspirar-me a vontade e rumava ao desconhecido.
Iria conhecer este mundo, vê-lo da forma que mais ninguém o vê. Iria ver cores, tantas cores, e sentir os cheiros. Mar, sol, terra... Todos eles dando-me mais e mais vontade de ir, sem rumo, só pelo belo prazer de ir.
Veria novas caras, novos povos e descobriria costumes que pensava não existirem ou estarem extintos por completo. Iria aprender as várias linguas faladas pelo mundo.
Seria apenas eu e o mundo... Numa aventura sem fim, enfrentando tempestades e o sol escaldante...
Ao aproximar-se da mesa, Beth olhou a mulher, que estava distraída e, também, porque queria adiar ao máximo o encontro dos seus olhos com os do homem de negro. A mulher, loira platinada, de pele bronzeada e perfeita e olhos azuis como o céu, tinha os lábios carnudos pintados de um tom chamativo de vermelho. Os olhos apresentavam um perfeito risco negro, complementado com sombras brilhantes, perfeitamente conseguidas. As suas unhas, de gel e longas, tinham o mesmo tom dos lábios. No corpo trazia um vestido justo, vermelho e nos pés uns sapatos de salto alto, pretos. Beth não viu aliança no dedo, apenas jóias de aspeto caro mas, assim que a mulher balançou o cabelo, puxando-o todo sobre o ombro esquerdo, Beth teve um bele vislumbre de uma marca no pescoço. O homem de negro não faria aquilo, disso tinha a certeza, pelo que a mulher só poderia ter uma profissão... Com relutância, Beth olhou o homem, vendo os seus olhos negros e fundos, presos em si. Fez o seu melhor sorriso. - Boa noite. O que vão tomar? - Perguntou com voz cristalina. - Vinho. - Disse o homem. Voz forte, educada e com um ligeiro sotaque que Beth não conseguiu identificar. - O vosso melhor vinho. Tinto, de preferência. Como a mulher se manteve calada e sorridente, Beth deixou a mesa, educadamente, e dirigiu-se ao balcão. John já retirara a garrafa do frio, colocando tudo em cima de um tabuleiro em cima do balcão. - Mas que raio?! - Disse ele em voz baixa, quando Beth se aproximou. - Ela é acompanhante. - Disse Beth, entre dentes, enquanto pegava no tabuleiro fingindo que estava tudo normal. John ergueu o olhar para a mulher e Beth parou a meio do movimento, fitando o amigo. Fez uma careta e depois pegou num guardanapo, que atirou á cara dele. John olhou-a, interrogativo. - Estavas a babar-te! - Disse ela, afastando-se. John sorriu e continuou o seu trabalho, observando a mesa. Beth colocou os copos em cima da mesa e serviu o vinho. Quando se preparava para voltar ao balcão, o homem chamou-a. - Preciso de uma informação. - Disse ele olhando-a. Beth encarou-o, olhando-o da forma mais natural que conseguiu, esperando a pergunta. Mas o que poderia, alguém como ele, querer saber? - Estou á procura de uma pessoa. Um rapaz. - Os seus olhos pareciam querer abrir buracos na cabeça de Beth. - Um homem, na verdade. Trinta anos, no máximo. - Tem um nome? - Perguntou Beth, sentindo um arrepio. O homem pareceu pensar antes de responder. - Ryan Miller. O mundo de Beth caiu-lhe aos pés. O que aquele homem quereria de Ryan? e porque não sabia que ele estava morto? Beth tentou normalizar a sua expressão, mas notou algo no olhar do estranho homem. - Conhece? - Perguntou ele. Parecia um tigre, pronto a atacar. - Hum sim, mas... - Ele conhece-me, falamos várias vezes. - Disse ele. - Não tenciono fazer-lhe mal algum, longe de mim tal coisa, mas ele tem algo que me pertence. Sabe onde posso encontrá-lo? As perguntas fervilhavam na mente de Beth, mas ela tentou alhear-se. - Sim. - Respondeu por fim, escutando uma voz que lhe dizia para não revelar o seu parentesco com Ryan. Ainda. - Está no cemitério. Uma ruga apareceu na pele marmórea do rosto do homem, mesmo entre os olhos, mas desapareceu no minuto seguinte. Ele silênciou por um minuto e depois suspirou. - Não tinha conhecimento desse facto. - Ele fez um som com a boca. - Lamento imenso, menina, já que o conhecia. É uma pena, uma pena. Um rapaz tão competente... Suponho que não saiba quem são os seus pais? Ou alguém com quem vivesse? Beth mordeu o lábio antes de responder. O coração batia descompassadamente no seu peito. Reparou que a mulher levara a mão ao decote assim que o nome de Ryan fora pronunciado. Soube, de imediato, que ela já tinha estado nos braços do seu irmão. Estremeceu. - Ele... Era meu irmão. - Respirou fundo. - Qualquer assunto, é comigo. - Beth queria o pai longe daquele homem sinistro. Os olhos do homem arregalaram-se, com as sobrancelhas quase a tocarem a linha do cabelo. A mulher olhou para Beth, avaliando-a. - Ora, que bela coincidência, senhora... - Beth. O homem sorriu. - Beth. Interessante. - Estendeu-lhe a mão. - Chamo-me Eric. - Ele apertou a mão de Beth com força e depois continuou a sorrir enquanto falava. - Peço desculpa aparecer num momento inoportuno, mas desconhecia completamente a morte do Miller. O seu irmão tem algo que me pertence, uma coisita de nada, mas como deve compreender, quero-a de volta. Gostaria de contar consigo para a reaver. Beth estudou o homem, mas sabia que não havia saída. - Do que se trata? - Perguntou, derrotada. - Uma caixa. Uma caixa negra com um simbolo desenhado a ouro. - Os olhos dele brilharam. - Uma águia. Beth balançou a cabeça. - Nunca vi tal objeto. Mas posso procurar em casa dele. Mas só poderei entregar-lha amanhã... Se a encontrar. Os olhos de Eric brilharam. Beth reparou, pela primeira vez, que Eric não era tão magro como parecia. Era musculado o suficiente para agradar, isso notava-se no peito sob a camisa, e o seu sorriso até era sedutor. - Vai encontrá-la. - Disse ele. - O seu irmão tem-na, ela pertence-me. Se não a encontrar... Vai ter de trabalhar para mim... Até repor o valor da caixa. Beth ficou imóvel, olhando-o nos olhos, percebendo o tipo de trabalho que teria de fazer, enquanto a mulher parecia chocada. Eric sorriu. - Só que a caixa já tem mais valor do que apenas o monetário. Tem um valor sentimental. - Sorriu ainda mais, triunfante. Beth sentiu o ar abandoná-la, enquanto era preenchida por uma onda de ansiedade e pânico.
Hoje, nesta nossa rubrica, trago-vos uma "menina" super simpática e muito querida, que tive o prazer de conhecer neste mundo a que chamamos blogosfera. Deixo-vos a entrevista á Magda.
Antes de mais quero agradecer imenso pelo convite para participar nesta rubrica das "Conversas Paralelas"!
Sou a Magda, tenho 17 anos.
Nasci em Portugal e vivo em Lisboa.
Sou apaixonada por aquilo que me faz perder a respiração (porque só aquilo que te faz perder a respiração é que vale a pena respirar).
Lêh: Porque decidiste criar o blog?
Magda:
Desde pequena que sou apaixonada por este mundo do Blog, sempre desejei partilhar as minhas ideias, experiências e compartilhar muitas outras coisas...Então quando recebi o meu primeiro computador e essa paixão cresceu decidi criar o meu primeiro blog, na altura tinha uns 9/10 anos por aí (muito novinha, eu sei), lembro-me que ninguém soube na altura simplesmente criei, mas era tão nova e tão imatura... não sabia o que fazer com um blog, sabia que queria ter um mas não o que escrever etc, etc... muito menos tinha responsabilidade para o ter, então pensei "Vou deixar isto para daqui uns aninhos"e assim foi... aos meus 13/14 anos voltei a criar mas desta vez já tinha mais consciência do conteúdo que queria publicar mas mesmo assim o blog que tinha não me agradava, nunca ficava satisfeita com o fundo, ou até com o nome do blog (do que me lembro eram os nomes mais foleiros de sempre, que vergonha) então pensei "Talvez isto não seja para mim." Então voltei a abandonar esse blog...
Mais tarde com uns 15 voltei a querer ter um e a pensar seriamente nisso, mas não cheguei a criar um, foquei me em ideias, nomes e coisas que podia compartilhar e apontei tudo porque quem sabe mais tarde criava e seria desta!
Então essa ideia cresceu mais quando estava a caminhar para os 17 anos e quando completei os 17 anos criei, e foi desta! FINALMENTE!
Deu tudo certo (apesar de antes deste blog ainda ter criado outro, mas não ficando satisfeita com o resultado terminei com ele, sim porque se é para ter algo que seja algo bom e que nos faça sentir orgulho naquilo)...Mas acabou por dar tudo certo, criei o blog e aos poucos fui fazendo umas alterações até ficar como queria (apesar de ter consciência que muita coisa ainda tem que ser feita e mudada) e posso dizer que agora passado uns 7/8 anos estou satisfeita com o resultado e que valeu a pena esperar até porque agora tenho mais responsabilidade , meios e outras coisas para a qual na altura não tinha cabeça.
Lêh: O teu nome é Magda, no entanto dizes que podem chamar-te Még. Qual a razão?
Magda: Considero o meu nome simples, nada de complexo...Mas por alguma razão sempre que me apresento a alguém a pessoa tem tendência em chamar-me tudo... menos pelo meu nome, desde "Marta" a tudo o que começa por um M.
Desde pequena sempre tive muitas alcunhas, desde "Magra", "Magno" (Sim, o gelado), "Maga", "Megui" ...e por aí a fora, mas "Még" foi uma das alcunhas pela qual mais me chamavam então acabei-me por "habituar", mas não me importo de todo que me chamem qualquer outra das alcunhas porque desde pequena oiço todas, desde amigos, familiares, amigos de família etc.
Lêh: Li que doaste cabelo. O que te fez tomar essa decisão?
Magda: Sempre gostei de ajudar o próximo com simples actos mas que fazem toda a diferença, como tal criei um tema no meu blog onde falo de doações e maneiras que podemos fazer para ajudar o próximo e onde a intenção é mostrar que podemos ajudar alguém com simples actos.
O meu cabelo sempre cresceu muito rápido, posso corta-lo pelos ombros que sei que dentro de poucos meses já está comprido novamente.
Como tal cortar 25 cm não era um problema, até porque o meu cabelo estava a precisar.
Então antes de querer corta-lo já sabia que queria doar, além de ser uma boa acção sabia que estaria a colocar um sorriso a alguém.
Lêh: Dá para perceber que gostas de moda e beleza mas... Consideraste vaidosa?
Magda: Não considero "ser vaidosa" como algo negativo, a não ser que chegue a grandes extremos ao ponto de fazer plásticas, desencadear doenças como bulimia e anorexia ou até ao ponto de nos tornamos orgulhosos.
Posso me considerar uma "vaidosa saudável", que se aceita como é e utiliza isso para se cuidar... Até porque acho que TODOS devíamos ser vaidosos com isto digo: Deviam começar a valorizar mais a pessoa que são, a cuidar não só do vosso exterior como O INTERIOR (que acaba por ser mais importante).
Trata-se de amor próprio de nos cuidarmos, até porque ninguém vai cuidar de nós próprios, além de nós.
Ser vaidosa não é achares que és melhor que alguém ou superior é teres orgulho na pessoa que és e saberes tratar-te bem e saberes ver aquilo que mereces.
Obviamente que isto acaba por ser um assunto delicado, todos temos inseguranças ou baixa auto estima...Mas amar quem somos não é nenhum crime.
Ser vaidosa é saberes utilizar o amor próprio.
Lêh: O que te fascina nos filmes de terror?
Magda: Para quem segue o meu Blog, sabe que gosto de filmes de terror e que são uns dos meus favoritos, apesar de achar que os filmes de terror já não são o que eram, pois muitos deles acabam mais por fazer-me rir do que por me com medo e até porque as histórias já não são as melhores.
Mas apesar de tudo há filmes bons e bastante interessantes pois acabam sempre por ter um mistério atrás de cada história, uma pessoa misteriosa e fenómenos inexplicáveis.
Lêh: Qual o teu maior sonho?
Magda: Ser feliz.
Tenho tantos sonhos desde viajar o mundo e conhecer novos lugares, culturas, pessoas e comidas. Aprender coisas que jamais me passaria pela cabeça ser capaz de aprender. Fazer coisas que me dão borboletas no estômago (por exemplo: Skydive), ter oportunidades...Inspirar-me com coisas simples.
Dar alegria a alguém. Fazer o meu melhor e dar tudo de mim. Deixar este mundo um pouco melhor...
Realizar todos os meus sonhos.
Lêh: Qual o teu destino de sonho?
Magda: Um dos meus maiores sonhos é viajar pelo mundo, sinto-me inteiramente feliz quando vou para outra cidade ou até para outro sítio em que simplesmente tenha que fazer uma viagem de carro ou até de transporte. Infelizmente ainda não tive a oportunidade de viajar para fora de Portugal (apenas Espanha, mas era muito nova e já nem me lembro de nada).
Visto que um dos meus sonhos é viajar pelo mundo tenho muitos sítios pelos quais gostava de ir um deles sem duvida é Nova Iorque quero imenso conhecer esse país.
Mas também gostava de conhecer outros lugares tais como: Califórnia, Havaí, Japão, França, Brasil, India, entre muitos outros...
Lêh: Qual o teu maior receio?
Magda: Perder quem eu mais amo e que os meus familiares e amigos não estejam felizes.
Lêh: O que dirias a alguém que entrou agora na blogosfera?
Magda: O que diria era que antes de mais há que querer realmente ter um blog, que essa pessoa expresse as suas opiniões, conhecimentos e experiências da melhor maneira.
Que consiga ajudar pessoas com o seu blog. Que tenha responsabilidade e organização mas que além de tudo SE DIVIRTA!
Que consiga mostrar a sua personalidade através do seu blog e que consiga criar exactamente o que deseja e que alcance o que pretende.
Obrigada magda pela entrevista. Foi um prazer entrevistar-te e ficar a conhecer-te um pouco melhor.
Digam o que disserem, mas eu sou daquelas pessoas que adoram tatuagens. Tenho duas e estou a planear a terceira. Muito sinceramente, não concordo que se fechem portas a pessoas só por causa de terem ou não uma tatuagem. Já vi muitos bons profissionais que, por baixo da roupa de trabalho, têm uma história desenhada na pele. Apoio totalmente esta moda e, garanto-vos, vicia. P.S: a tatuagem da foto é UMA das minhas
A sério. Depois de uma noite muito barulhenta, esta vossa amiga chega ao trabalho e... O computador não liga. Morreu completamente. É o motivo de a rubrica " Conversas Paralelas" não poder ser publicada hoje. Isto só me acontece a mim...
- Anda, levanta-te! - Gritou John. Beth, sentada na cama, olhou-o. - Porque estás aos gritos comigo? - Perguntou, a sua voz um sopro, em nada semelhante com a sua voz normal. John sentiu um aperto no estômago e sentou-se junto das pernas dela, estiradas sobre a cama. - É a única forma de reagires. - Explicou. - Se falar contigo normalmente, tu não me ouves. Ela assentiu. Estava na hora de voltar á normalidade, John tinha razão. O pai, o Sr. Miller, caíra numa apatia medonha após o funeral do filho, mas Beth não queria isso para si. Prometera continuar a sua vida, claro que sem nunca esquecer o irmão, mas não se permitiria cair numa depressão, que a envolvesse com os seus tentáculos pegajosos. No entanto, a imagem de Ryan, deitado no chão, desfigurado e irreconhecivel, e com a garganta aberta, manchando o tapete de sangue quente, ainda estava bastante viva na sua mente. Suspirou e olhou para John. - Está bem. - Disse ela. - Dás-me dois minutos? Preciso de um banho. - Fico aqui, não quero correr o risco de te armares em engraçadinha lá dentro. - Indicou a porta da casa-de-banho privativa com o queixo. Beth observou-o, calada, mas por momentos a sua mente esqueceu tudo. Tudo menos esbofetear John. - Não me vais ver nua. - Rosnou ela. - Prometo fechar os olhos. - Disse ele. Sentindo que não era capaz de demover John das suas decisões, Beth levantou-se e dirigiu-se á casa de banho. John fechou os olhos por dois segundos e respirou fundo. A morte de Ryan abalara-o, mas ele não se podia dar ao luxo de ir abaixo. Ele tinha de ser o pilar de Beth, caso contrário ela acabaria como o pai. Abriu os olhos, passara mais tempo naquela casa em uma semana, do que imaginava ser possivel, devido ao feitio de Beth. Mas esta pedira-lhe para pasar ali algumas noites, e ele percebera o pedido. De repente, John ficou estático, aprecebendo-se de que Beth não fechara totalmente a porta. O momento não era adequado a ideias sedutoras, mas John não conseguiu impedir os seus olhos de procurarem ávidamente por um vislumbre da rapariga, mesmo naquele espaço limitado. O seu coração batia rapidamente, e um calor apoderava-se do seu corpo, algo que ele já sentira e sabia identificar. Sem aviso prévio, John viu Beth embrulhada da toalha, dentro da divisão. Conseguia ver metade do seu corpo. Estava bronzeado e, quando ela retirou a toalha, as suas curvas bem delineadas saltaram á vista. John permitiu-se aproveitar da distração de Beth e observou-a. Observou as suas pernas tonificadas e fortes, o seu rabo com a marca do biquini... As suas costas... Algo se mexeu contra a sua vontade, e ele levou a mão ás calças, onde uma parte do seu corpo lutava contra o espaço apertado. - Para com isso! - Murmurou para si, mas incapaz de desviar o olhar. Foi quando Beth se voltou, permitindo-lhe ver os seios nus, generosos e convidativos, e a zona abaixo do umbigo que parecia gritar-lhe aos ouvidos, que John se levantou e saiu do quarto o mais rápido que conseguiu, refugiando-se dentro da casa-de-banho dos hóspedes, num dos quartos, e trancando a porta. Tentou desviar os seus pensamentos para outra direção, mas estes eram arrastados de volta á imagem nua de Beth. Com um som abafado, John tirou o cinto e abriu o fecho das calças, tocando no seu corpo incandescente com um gemido. Estava tão excitado que não demorou muito tempo a atingir o ponto fulcral, enquanto o nome de Beth saía por entre os seus lábios, sussurrado tal qual um segredo. Ainda com a mão suja do seu próprio fluído, John encostou o outro braço á parede, e poisou a cabeça sobre este, fechando os olhos e respirando ofegantemente. - John! Ele saltou de susto ao ouvir Beth chamar por si. - Vou já! - Respondeu, puxando o autocolismo e lavando as mãos rapidamente. Olhou-se ao espelho, apertou o cinto e tentou fazer um ar o mais normal possivel. Mas, mesmo sendo homen, apostava que iria corar um pouco assim que visse Beth. Beth esperava na sala, sentada no sofá, mas levantou-se assim que John desceu o último degrau. - Estou pronta. - Disse ela. John olhou-a. A indumentária era algo que usava várias vezes: calças de ganga, uma blusa sem mangas e com um decote generoso e, nos pés, uns ténis. O cabelo estava solto e a maquilhagem perfeita. Beth parecia normal, tendo em conta as circunstâncias. - Eu sei que... - Disse ele, mas ela silênciou-o com um gesto da mão. - Não. - Disse. - Agora que me fizeste levantar, não vou voltar atrás. Vai ser um dia de trabalho como tantos outros. John sorriu-lhe. - Esta é a minha miúda. - Disse, só percebendo o que tinha dito quando sentiu calor no rosto. Beth olhou-o. - A tua miúda que, por acaso, manda em ti. Ou pelo menos tanto como tu. - Disse, relembrando-lhe que, oficialmente, John já era patrão no "Maltese". - Mas calma, não sou a TUA miúda. - Sorriu. John ficou feliz com aquele sorrisinho lançado ao acaso. Beth não sorria á dias.
Beth trabalhara com afinco durante todo o dia. Recolhendo pedidos, entregando as coisas nas mesas certas, limpando mesas e ajudando no balcão. Tudo isto sobre o olhar atento de John, que esperava um colapso a qualquer momento. Mas ela não o desiludira. Depois de escurecer, Beth permitiu-se encostar a anca ao balcão, do lado de dentro, olhando a clientela. - O Claude está no céu. - Disse John, sorrindo. Beth riu. Claude estava junto de uma mesa, ocupada por um rapaz bastante atraente, que sorria bastante para o empregado. Os dois conversavam animadamente, ainda que Claude se mantesse de pé por ser o seu local de trabalho. - Pode ser desta. - Disse Beth. - Não sei... - Disse John. Beth contornou o balcão e dirigiu-se ao amigo, poisando-lhe a mão no ombro e, em seguida, retirando-lhe o tabuleiro das mãos. - Senta-te, aproveita. - Disse ela ao ouvido de Claude. Este fez-lhe o seu melhor sorriso e sentou-se á mesa, enquanto Beth voltava ao seu lugar. John sorriu-lhe. Subitamente, a porta abriu e um homem entrou. Não entrou sozinho, ao seu lado uma mulher deslumbrante olhava o espaço com curiosidade e, atrás de si, dois homens enormes, vestidos de negro e com auriculares nos ouvidos, pareciam atentos a tudo e todos. O homem era alto, magro, de pele pálida e cabelo negro como ébano. Vestia um fato, todo ele preto, e uma camisa branca. Ele e a mulher, sentaram-se a uma mesa, enquanto os outros dois ficavam de pé, um de cada lado, protegendo os seus ocupantes. Beth deu um passo em frente, pronta a dirigir-se á mesa, mas sentiu a mão de John no seu braço. Olhou-o. - Eu vou. - Disse ele. - Não. - Beth sacudiu a mão do homem com gentileza. - Não tenho medo. Endireitando os ombros e sacudindo o cabelo, Beth dirigiu-se á mesa, sem saber o que esperar de tal peculiar grupo. Talvez peculiar não fosse a palavra adequada para descrever o homem de negro, que parecia liderar todos os outros. Beth pensou numa palavra que o descrevesse e, de repente, surgindo qual flash luminoso, ela surgiu. A palavra certa era assustador. E Beth percebeu porquê. As vestes negras, o fato cuidado e caro... Por algum motivo, aquele homem lembrava-lhe a morte.
Hoje lembrei-me de algo. Lembrar não é bem o termo, porque nunca foi esquecido, mas foi qualquer coisa do género.
Uns miúdos decidiram ver, hoje, o filme "Titanic", aqui nos estaminé, e isso lembrou-me de quando eu tinha a idade deles. Foi o primeiro filme que vi com olhos de ver, porque quando saiu, a minha mãe disse-me que era muito pesado para mim. Mas assim que tive a oportunidade, agarrei nele e vi-o sozinha.
Fiquei rendida ao ecrã, completamente apaixonada pelo filme. Não pela história de amor entre Rose e Jack, que isso na altura não me interessava para nada, mas mais pelo mistério que o desastre evocou em mim. Toda aquela histeria á volta da viagem, da chegada a Nova Iorque, o facto de ninguém se ter apercebido do iceberg até ser tarde demais... Eu era uma criança, sim, mas compreendia tudo isto. Eu era um pouco avançada em relação aos outros miúdos, talvez devido á educação que recebi, logo o filme não me pareceu pesado.
Mas desde aí que o navio me fascina e, ainda hoje, leio e vejo tudo o que há sobre o mesmo. Claro que, hoje em dia, se rever o filme, as lágrimas vêm-me aos olhos ao ver todas aquelas vidas perdidas, porque compreendo melhor a morte e a tragédia, mas mesmo assim, continua a exercer em mim a mesma magia que exercia á anos atrás.
Da minha mesa, consigo ver a televisão da sala onde os miúdos estão. Acho que vou dando umas espreitadelas hehehehe
O restaurante passara a ser mais um bar, com alguns pratos rápidos, ao longo do tempo. Desde que a mãe de Beth morrera, uma cozinheira de mão cheia, o seu pai, o Sr. Miller, tinha deixado de confecionar grandes pratos de outrora. Beth entrou no salão, dirigindo-se atrás do balcão. Estavam com bastante clientela, e Rachel e Marcie, as empregadas de mesa, estavam ambas atarefadas com os pedidos. - Tudo certo? - Perguntou o Sr. Miller. - Sim. Sabes que o John raramente comete erros. O Sr. Miller sorriu. - Ele deve ter uma opinião diferente, em relação a um certo aspeto. Beth olhou-o, semicerrando os olhos felinos, com os lábios a desenharem uma fina linha. - Porque é que toda a gente decidiu meter-se na minha vida? O Sr. Miller olhou a filha. - Não estou a meter-me. - Tal como Claude, ele nascera e crescera no Louisiana. Encostou-se ao balcão e cruzou os braços. - Só... Bem, foi uma forma de mudar de assunto. - Para quê? - Beth conhecia muito bem aquele tom de voz. Sabia que o pai estava prestes a fazer-lhe algum tipo de revelação estonteante. - Falei com o John. Estou velho, Beth, sabes disso. - 55 anos não é ser-se velho. - Rosnou Beth. - Sim, sim... Mas quero descanço. Não quero deixar-te isto tudo ás costas, pensei que... - Nem penses em fazer do Ryan o meu sócio! - Explodiu Beth. - Adoro o meu irmão, sabes disso, mas o Ryan não percebe nada que não tenha a ver com carros! Ele só percebe de motores, mamas e rabos! Nisso é profissional! Ryan era mecânico e, para além disso, pouco sabia fazer e nunca mostrara interesse em gerir o negócio do pai. No entanto, passava algumas horas sentado ao balcão, estudando formas de engate com que atacava as raparigas que apareciam, a fim de as levar para a cama. O Sr. Miller sorriu, assentindo com a cabeça. - Eu sei. Por isso mesmo é que decidi que o John viria trabalhar contigo. Ele anda cansado da distribuição, apesar de adorar aquilo, mas seria uma grande ajuda para ti. Além disso, o homem é inteligente. E forte. Consegue carregar caixas, já que eu nem empurrá-las pareço conseguir. O pensamento de Beth perdera-se e nem chegara a ouvir a frase até ao fim. Desde quando o pai entregava o negócio a uma pessoa de fora? Mesmo que essa pessoa fosse o delicioso, sexy e deslumbrante John? - O quê? - Disse Beth.
De braços cruzados, Beth estava plenamente ciente da presença de John, sentado ao seu lado, numa das cadeiras em frente á secretária do escritório. Do outro lado, sentava-se o Sr.Miller, falando e olhando os dois, como se fossem crianças. Beth sentiu o toque do joelho de John no seu, quando este se mexeu para pegar numa folha. Bufou de impaciência. Ela gostava de John, sim, afinal eram amigos, mas tê-lo como patrão? Agora é que os planos de casamento iam parar de ser apenas ideias ditas da boca para fora. As velhotas, e as cuscas das vizinhas, iam dar gritos de prazer quando soubessem da novidade, que eles seriam colegas de trabalho. Beth desconfiava mesmo que, algumas delas, já se divertiam sozinhas á custa de John. O telefone tocou e ela estendeu a mão, levando o aparelho ao ouvido. - "Maltese", boa tarde, fala a Beth. - Disse, esperando resposta do outro lado. Beth escutou um som estranho, algo estrangulado e molhado, como uma partida de Halloween. Mas estavam em pleno Verão. - Sim? - Perguntou. - Em que posso ser útil? Os olhos de John estreitaram-se quando ele franziu o sobrolho, Beth encolheu os ombros, escutando o mesmo som sinistro do outro lado. Irritada, novamente, Beth desligou o telefone. - Quem era? - Perguntou-lhe o pai. - Não sei. Não disseram nada. - Beth esfregou a testa, fechando os olhos. - Explica-me lá outra vez o porquê disto tudo? O Sr. Miller suspirou. - Beth, é o... O telemóvel de Beth tocou, e esta retirou-o do bolso, vendo tratar-se de Ryan. - Sim? - E esperou, mas nada ouviu, a não ser o mesmo som macabro. - Ryan? Ryan para já com a brincadeira, estamos a meio de uma reunião importante! Tem juízo! Mas o som continuava e Beth sentio um arrepio no corpo. - Ryan? - Chamou. No meio do tom molhado, Beth pareceu distinguir uma palavra, quase soprada pelo esforço. Levantou-se de um pulo e saiu do escritório. Escutou o pai e John atrás de si, enquanto se dirigia ao carro. - Beth! - Gritou o pai. - É o Ryan! - Gritou Beth, entrando no carro. - Tenho de ir. Espera-me aqui! Assim que saiu do parque de estacionamento, Beth conduziu que nem louca em direção a casa. Ryan estava de folga, de certeza que aproveitaria o dia para dormir. Viu o sinal passar a vermelho, mas não parou nem abrandou, pagaria a multa se isso lhe permitisse ter a certeza de que o irmão estava bem. Parou o carro á porta de casa, saindo a correr em direção á porta da entrada, deixando o carro aberto. Levou a mão aos bolsos e soltou um grito de frustração. - O que foi? Beth gritou de susto e olhou para trás, vendo John colado a si, e só nesse momento se apercebeu de que ele a seguira. - Esqueci-me das chaves! - Disse, em pânico. - O Ryan está aqui, o jipe dele está no lugar de sempre! Eu juro, John, era ele ao telefone! John olhou em volta. - Tens tudo trancado? - Sim. Saí a correr, duvido que ele tenha aberto uma janela que fosse. John puxou Beth para trás, respirou fundo e lançou-se sobre a porta, fazendo-a voar para dentro da sala. Tudo estava calmo, contudo Beth sentiu um cheiro estranho no ar. A casa era antiga, com divisões espaçosas, e mais do que aquelas que Beth poderia usar. Ela correu para o quarto de Ryan, no piso superior, encontrando-o num desalinho, mas vazio. - Beth! - Chamou John do andar de baixo. Beth desceu as escadas e parou junto do amigo, que se encontrava junto da porta das traseiras. A porta vidrada estava no chão, partida. As cadeiras jaziam no chão, como cadáveres pálidos e imóveis. A rapariga dirigiu-se á sala de jantar, seguindo a barafunda de tapetes, decoração e mobiliário no chão. A porta, encostada, abriu-se sem esforço e Beth olhou para o interior, soltando um grito medonho, capaz de acordar todos os mortos do mundo.
Não chorei. Não me permiti chorar, porque disseste-me que estava tudo bem. Mostraste-me, da forma possivel, e eu senti-o. Estavas, finalmente em paz. Acabara o sofrimento, a angústia, a espera.
Mesmo com todos os erros, sempre gostei de ti, acho que o sabes. Mesmo quando dizia ou pensava algo errado. De certa forma eras uma inspiração, por todos os horrores passados, por aquela força no último desafio.
Não foi justo, mas no fundo era o que preferias, via-o nos teus olhos e ninguém o pode desmentir.
Sinto-te em cada canto, e ainda espero ver-te sentado no teu sofá (que durante algum tempo foi o meu), mas sei que não voltarei a ver-te. Talvez um dia quando nos encontrarmos novamente.
Não chorei. Até posso ter chorado em silêncio, nos espaços remotos da minha mente, mas por ti, mantive-me calma. Claro que as lágrimas aparecem quando penso, quando me apercebo, novamente, da realidade. Mas são substituidas pelos momentos divertidos, como aqueles que surgiam durante um jantar, ou um almoço.
Tenho saudades, claro que tenho saudades e ainda não tive a oportunidade de te entregar nada que mostrasse isso, mas sei que sabes de tudo, e percebes porque ainda não o fiz.
Espero ver-te novamente (hoje ouvi-te, sabias? aquele som caracteristico da boa disposição chegou-me aos ouvidos), mas enquanto isso não me é possivel, espero que estejas em paz, junto dos que já partiram e deixaram a nossa familia mais reduzida. E espero que estejas junto do anjo que mais adoro, sim, porque ela só se pode ter tornado um anjinho, a olhar por nós.